Friday, August 10, 2018

Fragmento 211

Alguém sabe do Rochefort, Não, porquê, achas que anda a fazer das dele, Nada disso Randolph, não desta vez, apenas precisava de algo dele, Ele, há algo que ele te possa dar que mais ninguém possa, É como os relógios parados uma vez por dia, Não confio em gente com nome de queijo, sinto muito, Mestre Roang viu o Rochefort, Com estes olhos não, certamente, Perdão, Não há necessidade, compreendi-te, não, não o ouvi, cheirei nem senti, Porra, por uma vez que precisava dele, reiji, lembras-te da última vez que viste o Rochefort, Sim, foi pouco depois da guerra bósnio-canadiana, antes de o trancarmos na masmorra, Há quanto tempo foi isso, Uns meses, penso que menos de meio ano, talvez um pouco mais, Ninguém o vê desde aí, alguém sabe dele, não me digam que..., É bem provável, eu pelo menos não me lembrei mais, E alguém lhe deu de comer este tempo todo, Não me passou pela cabeça, Pobre coitado, deixámo-lo morrer sozinho e abandonado, Ora, nada de bom se perdeu, Como podes ser tão cruel, é humano como nós, Seria, Fazia parte de nós, Fez, já passou. Rod correu à masmorra. Quando abriu a porta, Rochefort dormia escancarado como uma estrela do mar no chão rijo de pedra, magro como um palito, como aliás sempre fora. As paredes brancas estavam cobertas de poemas de cima abaixo em toda a sua extensão. Rochefort, estás vivo, como é possível, Escrevi escrevi e escrevi, Viveste das tuas reservas de poesia, esgotaste-as para poder sobreviver estes anos todos, Não, quanto mais escrevia mais poemas surgiam, como um poço de água em tempo de chuva, agora sou mais poesia do que homem, Perdoa-nos, do que precisas, um cigarro, um copo de vinho, uma mulher, Preciso de uma parede maior...

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